quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O amor, o sexo e suas nuances

A partir do momento em que saímos do útero começamos a lutar por nossa existência. A sensação de conforto e saciedade existente na vida intrauterina é substituída, após o nascimento, pela sensação de desconforto que ocorre através da fome, da sede, e da dor, entre muitas outras. Saciadas ou não, estas demandas são responsáveis pela impressão, em nós, de um sentimento de descontinuidade ou falta que carregamos por toda a vida. A sensação de ser amado é o mais próximo que  podemos experimentar da simbiose materna.
  
O amor é atravessado por contradições. Ele pode dar a sensação de poder, amparo e segurança, ou a percepção de perda, abandono e dor. Estes sentimentos estariam  impressos em nossas primeiras ligações de afeto. Na tentativa de tornar o amor um lugar seguro, o homem cria mecanismos para contê-lo e domesticá-lo. Estes recursos se expressam através dos rituais de passagem que demarcam os compromissos assumidos pelo casal, fazendo com que o amor passe a ser instituído por regras e horários preestabelecidos. Mesmo que haja algum sentimento de sujeição e perda, este é suprimido pela sensação de segurança que os compromissos assumidos e os projetos em comum fornecem.

Inversamente ao amor, a sexualidade e seu componente erótico precisam do imprevisível. Emoção, adrenalina e riscos são fatores que estariam ligados ao desejo e ao erotismo. Enquanto que no erotismo os componentes são de expansão, no amor a necessidade é de controle e fusão.

É bastante comum vermos casais colocando a rotina como danosa à relação sexual e do casal como um todo. Depois de um tempo a excitação que havia da incerteza e da necessidade da conquista deixa de existir para dar lugar ao que é certo e está ali sem que se busque. O amor encontra a segurança e o conforto tão desejados, mas sucumbe quando o desejo entra em conflito com o hábito e a repetição, que se esvai junto com o previsível.

No  contexto atual é possível observar que o espaço para o cortejo e o ritual do acasalamento, com suas sutilezas permeadas pelo sentimento de amor, estão sendo suprimidas. Vemos homens e mulheres medindo forças. Eles buscando restituir o poder masculino e elas tentando suprimir os anos de submissão. Observamos jovens tendo suas primeiras experiências sexuais cada vez mais cedo, sem ao menos terem tocado o próprio corpo antes para conhecê-lo.  A nova ordem prega o prazer imediato e a qualquer custo, de maneira alienada. Neste contexto hedonista, os laços humanos se tornam fluidos, frágeis e descartáveis.

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